Não vemos católicos que são judeus, não vemos muçulmanos
pentecostais, não vemos budistas jainistas. No entanto, vemos umbandistas
que são candomblecistas, umbandistas católicos, umbandistas espíritas,
umbandistas evangélicos e etc. Muito curioso, praticar duas religiões que
tenham fundamentos totalmente diversos.
Sou umbandista, apenas umbandista, pois a Umbanda me basta em
todos os sentidos e expectativas.
Pertencer a uma religião é ter seus valores como valores de
sentido para nossa vida. Viver com valores dissonantes é ter uma vida com
caminhos dissonantes. Cada religião tem uma egrégora de energia própria e nem
sempre as egrégoras se complementam. Pelo contrário, muitas vezes se chocam,
por conta de seus valores e convicções diversos.
Pertencer a muitas religiões não é como fazer muitos cursos e
pendurar seus diplomas na parede. Cada religião chama, e algumas exigem, que
seu adepto assuma seus valores em um caráter confessional, ou seja, confissão
de fé, aceitação de que ali está a sua verdade. Fica a pergunta: onde está a
sua verdade, onde está seu coração?
Pertencer a muitas religiões pode criar uma hipocrisia
religiosa, pois num dia da semana você nega os valores que prega no outro dia
da semana.
Múltipla pertença religiosa tem sido usado como rótulo para
dizer que é mais descolado, mais espiritualizado. O que não corresponde a
verdade. O mais espiritualizado é aquele que vai mais fundo dentro de si mesmo
para vencer suas dores e dificuldades, e logo se torna melhor para todos ao seu
redor, por se tornar alguém mais bacana, mais agradável, mais feliz, mais
realizado.
Usamos palavras como humildade, paciência e desprendimento
para rotular quem é mais espiritualizado. Talvez por isso, os interessados em
serem mais espiritualizados vão forjando uma imagem de si mesmos, forjando uma
máscara social de mocinhos e mocinhas da luz... este é o “ego
espiritualizado”, uma hipocrisia espiritual.
Ser espiritualizado é ser você mesmo antes de tudo e tomar
consciência da vida material, espiritual, mental e emocional, tudo junto. Mesmo
porque, querer ser espiritual, negando o corpo e a mente, é um erro cometido
por religiões repressoras que prometiam o céu a quem negasse tudo que existe no
mundo.
Mesmo nos dedicando muito a uma única religião, ainda assim
não é fácil ter um aprofundamento da mesma em nossa alma e espírito, o que dirá
praticando muitas. Não se consegue ter profundidade em nenhuma, fica sendo algo
superficial. Nos enchemos de coisas e elementos externos para tentar tapar um
buraco existencial: nossos medos e fraquezas.
Existem muitas religiões, porque existem muitas formas
diferentes de entrar em contato com o sagrado, com o divino, e cada grupo de
pessoas se identifica com uma forma, ou cria uma nova forma de sentir e
expressar sua espiritualidade.
A Umbanda, por se tratar de uma religião nova, que nasceu no
mundo moderno e se desenvolve no mundo pós-moderno e contemporâneo, é muito
moderna, inovadora, aberta, evolucionista e inclusiva. A Umbanda nos oferece
uma quantidade infinita e inesgotável de recursos. A incorporação e o passe
mediúnico são apenas dois dos inesgotáveis recursos da religião. O fato é que
subestimamos a Umbanda e muitos, na primeira dificuldade, procuram uma outra
religião, ou o sacerdote de outra religião para lhe orientar e este vai lhe
cuidar segundo fundamentos de outra religião. O correto seria ter paciência e
confiar em seus guias de Umbanda. Se aprofundar e buscar respostas no lugar
onde mora a sua verdade. Descobrir que a Umbanda tem fundamentos e recursos que
vão se abrindo e se apresentando de acordo com nossas necessidades. Ao longo de
muitos anos, vários recursos vão se abrindo dentro da religião, muitos
mistérios se descortinam, mas primeiro é preciso aprender o básico.
O que é Umbanda?
Qual é a minha religião?
Quais seus fundamentos básicos?
Qual o por quê de cada gesto ritual, de sua liturgia?
Qual é a sua magia, por que tantos elementos?
Dentro da umbanda, existe um ambiente mais interno de
iniciações na força dos Orixás, existe uma apresentação formal de muitas linhas
de trabalho (caboclos, pretos velhos... etc), que se apresentam a quem queira
se aprofundar no conhecimento sacerdotal. Por isso e muito mais, estudamos
Teologia de Umbanda Sagrada e Sacerdócio de Umbanda Sagrada. Porque
queremos mais, muito mais, da NOSSA RELIGIÃO, da religião de UMBANDA.
Queremos muito, mas muito mais mesmo, que apenas ir ao terreiro uma vez por
semana “fazer nossa obrigação”, ou “fazer a caridade”. Tudo rotulado,
bonitinho, mecanicamente autômato. Estamos e continuamos comprando um pedaço do
céu, agora chamado Aruanda. Muitos continuam católicos, no inconsciente,
continuam espíritas, continuam com velhos paradigmas e perdem a oportunidade de
ir mais fundo na Umbanda, estão presos na margem, na superfície, no
raso. Vamos fundo na Umbanda, com a Umbanda e para a Umbanda.
EU SOU UMBANDISTA.
UMBANDA NÃO É CANDOMBLÉ!
UMBANDA NÃO É ESPIRITISMO!
UMBANDA NÃO É CATIMBÓ!
UMBANDA NÃO É CATOLICISMO!
Respeitamos todas as religiões e embora
tenhamos algo em comum com elas…
No entanto temos fundamento próprio…
UMBANDA, APENAS UMBANDA!!!
(ALEXANDRE CUMINO)