Observem que queremos chamar a atenção dos leitores para o
fato de que em um século de existência a Umbanda já avançou muito em seus
aspectos teóricos e práticos e, no entanto, sempre haverá espaço para novos
livros e conceitos, porque ela é uma religião de fato e uma fonte inesgotável
de conceitos e informações. Tanto isso é verdade que jamais deixaremos de ter
novos livros sobre a religião umbandista, nos quais os autores estarão
reavivando a fé dos leitores, abordando aspectos ritualÃsticos e conceitos
doutrinários, sempre movidos pelo intuito de elucidar, esclarecer e instruir as
novas gerações umbandistas.
Sim,
as novas gerações são as grandes levas de pessoas possuidoras de mediunidade de
incorporação que adentram diariamente os Templos de Umbanda, ávidas por
informações acerca do universo divino da sua nova religião.
Pai Benedito de Aruanda, M. L. , já nos dizia:
“Filhos, não temam as crÃticas cujo intuito é destruir a
Umbanda porque elas não prosperarão, já que a cada novo dia milhares de
espÃritos reencarnam e muitos deles já trazem abertas as suas faculdades mediúnicas,
faculdades essas que os conduzirão ao encontro das religiões espÃritas ou
mediúnicas, tais como o Espiritismo, a Umbanda e o Candomblé.
Pai Benedito também dizia:
“Filhos, a Umbanda é maior que todos os umbandistas juntos,
pois ela é uma religião, e, como tal, sempre abrigará novos fiéis, mostrando a
todos que é em si um mistério de Deus, apto a abrigar em seu seio (Templos)
quantos a procurarem e a adotarem como sua ‘guia terrena’ nos caminhos que nos
conduzem a Deus”.
Pai Benedito também nos alertava sempre sobre o fato de
que, caso alguém quisesse se arvorar em “Papa” da Umbanda ou chamasse para
si a posse dela, dos seus conceitos e da sua doutrina, logo se veria tão
assoberbado que se calaria e se recolheria ao silêncio sepulcral do seu Ãntimo,
já que a Umbanda não tem um dono ou um Papa.
Pai Benedito também nos dizia:
“Filhos,
a Umbanda é uma religião mediúnica e, como tal, dispensa Templos suntuosos,
pois onde houver um médium lá estará um dos seus ‘Templos vivos’, através do
qual a religião fluirá em todo o seu esplendor. Portanto, sejam bons e bem
esclarecidos médiuns, porque serão a religião”.
Tantas coisas foram ditas a nós por Pai Benedito de Aruanda
que é impossÃvel recordar todas neste momento em que escrevo a apresentação
deste livro. Mas, se de algumas me recordo é para salientar a sapiência
desse nosso amado irmão Preto-Velho que sempre nos alertava:
“Filhos, Deus é a verdade e a fonte divina de todos os
mistérios. Só Ele realmente sabe! Quanto a nós, espÃritos mensageiros e médiuns,
somos apenas intérpretes d´Ele e dos Seus mistérios, dos quais temos nossa
versões e nada mais”.
Logo, caso lhes digam:
Esta é a verdade final sobre Deus e sobre seus mistérios –
fiquem alertas porque ali estará alguém fazendo proselitismo em causa própria
ou é um mero especulador.
Se relembro os alertas de Pai Benedito de Aruanda, dados
quando Ele psicografava através de mim, é porque ele sempre foi um crÃtico
ardente de muitos dos comentários sobre os Orixás. Ele não poupava
ninguém quando o assunto era sobre os Orixás e até nos dizia:
“Filhos, hoje estão surgindo pessoas, cheias de soberba e
sapiência, arvorando-se em arautos do saber sobre os Orixás, tal como faziam os
missionários cristãos, que saÃam pelo mundo catequizando a torto e a direito
pessoas cuja religiosidade simples não resistia diante das suas citações em
‘latim’ feitas muito mais para impressionar as ‘massas ignorantes’ que pelo seu
conteúdo”.
“Lembrem-se”, alertava-nos Pai Benedito, “que Orixá
é mistério de Deus! E, como tal, assume as feições humanas que lhe dermos. Mas
lembrem-se também: Existe uma Ciência Divina que explica os mistérios dos
Orixás de forma cientÃfica e, em vez de recorrer aos seus aspectos mÃticos, os
decifra e os ensina através das qualidades divinas que cada um deles é em si
mesmo“.
“Na ‘Ciência Divina’ está a chave para decifrar os mistérios
dos Orixás, filhos de Umbanda!”, alertava-nos Pai Benedito de Aruanda, M.
L:
“Na Ciência Divina existe uma ciência dos entrecruzamentos que
nos explica cada Orixá cultuado nas religiões africanas puras ou
afro-brasileiras.”
Pai Benedito sabia das coisas que nós não conhecÃamos, mas que
o tempo se encarregou de nos mostrar. Em março de 2000 ganhei um
livro intitulado Orixás da Bahia, de autoria de Elyette Guimarães de
Magalhães e, para minha surpresa, encontrei uma descrição sobre o Orixá Logum
Edé, a qual transcrevo na Ãntegra:
Este grande Orixá, filho de Ibualama ou Inlé – uma ‘qualidade’
de Oxóssi, como dizem os afro-haitianos – e da Oxum cognominada Yeyê Ponda ou
mais simplesmente Oxum Ipondá, participa de modo muito imediato tanto da
natureza como da própria condição de seu pai e de sua mãe, cujos caracteres
reúne (os mais opostos inclusive) e em cujos domÃnios alterna. Assim é que de
seis e seis meses, conforme os mitos, deixa de ser o másculo caçador habitante
dos bosques, onde captura e mata os animais selvagens dos quais se nutre, para
mudar-se em bela ninfa vaidosa e cheia de requebros, senhora das águas doces de
cujos peixes ora se alimenta – e vice-versa. PoderÃamos mesmo dizer que Logum
Edé é, de fato, numa só pessoa e sucessivamente, Ibualama e Oxum.
Na ciência dos entrecruzamentos, discutida parcialmente no
nosso livro O Código da Umbanda, já vimos surgirem Orixás intermediários
a partir dos cruzamentos das irradiações verticais com as correntes horizontais
(faixas vibratórias), e ali todos foram identificados por nomes simbolizadores
dos seus campos de ação nos domÃnios divinos.
Deduzimos que Logum-Edé é o nosso amado Pai Oxóssi do amor, da
união e da concepção da vida, ao qual descrevemos assim:
- 2º Oxóssi: é o Oxóssi do amor ou o Oxóssi mineral, também
denominado Oxóssi do conhecimento genético. Ele surge a partir do 2º pólo
magnético, que é formado no entrecruzamento com a corrente eletromagnética
mineral, regida pelo Orixá Oxum (Orixá da concepção e do amor) com a 3º
irradiação vertical, regida por Oxóssi.
É impressionante como a descrição mÃtica e a cientÃfica se
encaixam no caso de Logum Edé e do 2º Oxóssi ou “Oxóssi do amor”, e se alguém
ainda duvidar de que são uma só divindade, então nada podemos fazer além de
recomendar isto: dêem tempo ao tempo para esclarecer o que não nos foi
possÃvel.
Observem que, se ressaltei o caso do Orixá Logum Edé, já que O
Código da Umbanda foi escrito em 1994 e só em março de 2000 este livro me
chegou à s mãos, e o código é obra mediúnica de diversos espÃritos (Pai Benedito
inclusive), também em maio de 2000, durante uma aula de Teologia de Umbanda,
mestre Anaanda nos revelou que o Orixá Ewá é uma “Iemanjá” intermediária, regente
de uma faixa vibratória horizontal em cujas pontas estão Iemanjá e Ogum, fato
esse que a torna impulsiva como todo Iemanjá e aguerrida como todo Ogum,
levando muitos a identificarem-na como uma “Iansã”.
A ciência divina nos ensina que Ewá é uma divindade
intermediária de Iemanjá, que atua sob a irradiação de Ogum como geradora de
uma vibração, energia e magnetismo criadores do caráter e amoldadora da moral
dos seres sob sua influência.
Cremos que esses dois exemplos já são suficientes para que os
nossos leitores entendam o objetivo da nossa Teogonia de Umbanda.
O texto acima é a primeira parte da apresentação do livro
“Orixás – Teogonia de Umbanda”, Editora Madras.
Rubens Saraceni